O preço do petróleo passou por forte volatilidade na semana passada, com a invasão da Rússia à Ucrânia — tanto é que, na quinta -feira (24), logo após o início do conflito entre os países, o barril do Brent chegou a ultrapassar os US$ 100, embora tenha recuado para abaixo dessa faixa no mesmo dia. Essa volatilidade tende a elevar ainda mais o valor dos combustíveis por aqui, mas a Petrobras (PETR4) diz que não pretende mexer em sua política de preços.
O argumento é o de que, se não acompanhar as cotações do petróleo e dos derivados, o mercado brasileiro de combustíveis e o abastecimento interno poderão ser afetados, como afirmou o diretor de Comercialização e Logística da estatal, Cláudio Mastella, em teleconferência com analistas para detalhar o lucro recorde de 2021.
A Petrobras utiliza o Preço de Paridade de Importação (PPI) para definir os reajustes dos valores da gasolina e óleo diesel em suas refinarias. Por essa política, os preços internos deveriam subir em linha com a valorização das cotações do petróleo e dos seus derivados nos principais mercados mundiais de negociação, como o do Golfo do México, nos EUA, e o de Londres.
Além da commodity, também pesam no cálculo da estatal o câmbio e custos de importação. Isso porque os principais concorrentes da empresa, atualmente, são os importadores e o objetivo da Petrobras é manter seus preços próximos aos deles.
Já há algum tempo, na verdade, a cotação vem subindo, por conta das tensões geopolíticas provocadas pela ameaça de invasão russa. Mesmo assim, os preços no Brasil permanecem inalterados desde o dia 12 de janeiro. A posição da empresa é complexa, já que a manutenção do PPI e os efeitos sobre os preços internos repercutem mal entre os consumidores e afetam diretamente a ambição do presidente da República, Jair Bolsonaro, de vencer as eleições.
"Temos observado a elevação dos preços nas últimas semanas e, em paralelo, o dólar foi desvalorizando. Com esses dois movimentos, em contraposição, a gente pôde manter nossos preços (inalterados)", afirmou Mastella, acrescentando que, na quinta-feira (24), em particular, a volatilidade foi maior e a empresa estava "observando" o mercado para avaliar possíveis reajustes.
A visão do executivo é de que mesmo com as turbulências internacionais, a Petrobras é competitiva e se mantém alinhada ao mercado externo, ao mesmo tempo em que evita repassar aos consumidores as volatilidades conjunturais das cotações.
Um dos motivos para a estatal manter o PPI é o interesse em atrair investidores para as refinarias à venda. O receio é que, se atender à reivindicação de Bolsonaro de congelar os preços dos combustíveis para aliviar a inflação, vai afugentar empresas que teriam interesse no negócio, mas não querem participar de uma atividade comandada pelo governo.
Petrobras (PETR4), petróleo e Rússia
A cotação do petróleo é particularmente sensível ao conflito no leste europeu porque a Rússia é a segunda maior exportadora global da commodity, respondendo por cerca de 11% das vendas internacionais — e, com o país envolvido numa guerra que pode se estender por tempo indeterminado, o mercado trabalha com um cenário de corte na oferta do produto.
Nesta segunda-feira (28), o barril do Brent opera em alta de mais de 4%, sendo negociado na casa dos US$ 98; mais cedo, na abertura dos negócios, a cotação voltou a superar a marca dos US$ 100, mas novamente não se sustentou nesse patamar.
Ainda assim, muitos analistas e instituições financeiras já projetam que o barril de petróleo poderá chegar a US$ 125 ou US$ 130 no curto prazo — os mais pessimistas colocam a commodity na casa de US$ 150. Veja o vídeo abaixo, em que Enzo Pacheco, analista da Empiricus, fala ao podcast Touros e Ursos sobre os impactos da guerra no mercado do petróleo:
*Com Estadão Conteúdo