Se os analistas esperavam um resultado "sem brilho" do Bradesco (BBDC4) no terceiro trimestre, os números vieram piores do que a encomenda. O banco registrou lucro líquido recorrente de R$ 5,2 bilhões entre julho e setembro, cifra 22,8% menor que a registrada no mesmo período do ano passado e muito aquém das projeções do mercado, que eram de lucro de R$ 6,7 bilhões.
De acordo com o Bradesco, os principais fatores que explicam o resultado são o desempenho da margem financeira com mercado, que foi negativamente afetada pela taxa básica de juros (Selic), além do aumento das provisões para devedores duvidosos (PDD) por conta da alta da inadimplência.
O retorno sobre o patrimônio líquido médio (ROAE) também teve uma queda significativa de 5,6 pontos percentuais em relação ao mesmo período de 2021, passando de 18,6% para 13%.
Inadimplência em alta
Ao mesmo tempo, as dívidas vencidas há mais de 90 dias continuam em trajetória de alta e chegaram a 3,9% ao final de setembro. No segundo trimestre, o índice estava em 3,5% e no terceiro trimestre de 2021 em 2,6%.
Entre as pessoas físicas, a inadimplência chegou a 5,1%, com destaque para as linhas de crédito massificado, segundo o Bradesco. Já entre as pessoas jurídicas, quem puxa o índice para cima são as micro, pequenas e médias empresas, onde o indicador chegou a 4,5%. Nas grandes empresas, o índice ficou estável em 0,1%.
Do segundo para o terceiro trimestre, as provisões para devedores duvidosos (PDD) tiveram crescimento de 36,8%, atingindo R$ 7,6 bilhões. As despesas com a PDD expandida chegaram a R$ 8,6 bilhões, aumento de 5,4% entre os trimestres.
"O aumento da PDD no trimestre reflete o maior volume dos negócios em operações mais rentáveis e de maior risco, o reforço de cerca de R$ 1 bilhão de PDD complementar e, também, as condições do cenário econômico, que contribuíram com o aumento da inadimplência", disse o Bradesco.
Margem com clientes avança, mas com mercado recua
A margem com clientes subiu 23,4% na comparação com o terceiro trimestre de 2021, para R$ 17,5 bilhões. O impulso, de acordo com o Bradesco, veio de um maior volume de operações e mudança do mix de produtos, além de uma melhora da margem de passivos.
Em relação ao segundo trimestre, a evolução foi mais tímida, de 3,4%, devido a melhores spreads oriundos, principalmente, da margem de passivos.
A margem com mercado, por sua vez, piorou consideravelmente, passando de R$ 587 milhões negativos para R$ 1,2 bilhão negativos. A linha foi prejudicada, segundo o Bradesco, pelo efeito negativo da elevação dos juros sobre o posicionamento do banco na gestão de ativos e passivos.
Receitas com prestação de serviços avançam
O trimestre mais difícil também se refletiu nas receitas de prestação de serviços, que recuaram 1,3% na comparação trimestral, mas subiram 1,1% na comparação anual, totalizando R$ 8,856 bilhões.
Do segundo para o terceiro trimestre, apenas as receitas com rendas de cartão e com administração de fundos subiram. Na comparação com o mesmo período de 2021, as rendas de cartão também avançaram, além das receitas com serviços de custódia e corretagens.
Seguros têm faturamento de R$ 25 bi
A operação de Seguros, Previdência e Capitalização continua se mostrando uma área de suma importância para o Bradesco, com o faturamento atingindo R$ 25 bilhões no terceiro trimestre, um aumento de 18,9% em 12 meses.
O lucro da operação, por sua vez, recuou 3,1% na mesma base de comparação, para R$ 1,495 bilhão, enquanto a rentabilidade chegou a 17%, um recuo de 1,1 ponto percentual em relação ao terceiro trimestre de 2021.