Olá, seja bem-vindo à Estrada do Futuro, onde conversamos semanalmente sobre a intersecção entre investimentos e tecnologia.
Existe um abismo entre a quantidade de informações que possuímos das empresas de capital aberto e das companhias privadas.
Naturalmente, os famosos fundos de venture capital divulgam, posteriormente, detalhes de investimentos bem-sucedidos. Um dos mais famosos é a divulgação do memorando de investimentos interno da Sequoia no YouTube, no distante ano de 2005.
Infelizmente, é raro ver o contrário.
Com a exceção dos casos de calibre do WeWork e da Wirecard, que viraram documentários na Netflix pelos seus fracassos colossais, não costumamos ter a oportunidade de confrontar as expectativas dos venture capitals com a realidade na maioria dos seus investimentos.
Por isso, fiquei bastante surpreso ao ler uma matéria de 2015 do TechCrunch com o vazamento do que eram as expectativas dos investidores privados da rede social Pinterest, numa rodada que avaliou a companhia em US$ 11 bilhões.
Ao somarmos a dívida, esse valor de US$ 11 bilhões é exatamente o enterprise value — ou valor da firma, em português — do Pinterest hoje, 7 anos depois.
Longe de um fracasso retumbante como as histórias do WeWork e da Wirecard, essa é a história de um investimento cujos retornos não vieram simplesmente porque os investidores foram excessivamente otimistas.
Pinterest, a rede social dos artistas
Não é fácil explicar o Pinterest se você nunca o viu, mas basta abrir o seu aplicativo para entender o conceito por trás dele: é uma rede social com foco muito específico no compartilhamento de projetos artísticos.
As pessoas usam o Pinterest para descobrir ideias. As categorias mais pesquisadas na plataforma são decoração de interiores, artes e comida. Há uma enorme sobreposição entre os usuários do Pinterest e plataformas de e-commerce, como a Etsy e o Elo7 (que pertence à Etsy, diga-se de passagem).
De acordo com a empresa, cerca de 2/3 dos usuários ativos são mulheres; o Pinterest está presente em vários países, com diferentes graus de penetração e sucesso em cada um deles.
Como em todas as teses de investimentos em redes sociais, esse é um jogo de aumentar a quantidade de usuários ativos e elevar a receita média por usuários, primeiramente via publicidade (no mesmo modelo Facebook/Instagram) e, depois, via e-commerce e outras fontes de receita alternativas.
A tese da a16z
No vazamento da TechCrunch, há detalhes sobre o que eram as projeções da a16z — o fundo de venture capital que liderou a rodada de captação — para o intervalo entre os anos de 2015 a 2018.
Eles esperavam que o Pinterest alcançasse um total de 329 milhões de usuários ativos mensalmente e uma receita de US$ 2,8 bilhões, equivalentes a um tíquete médio de US$ 8,51 por usuário.
Esses números representavam um crescimento enorme para a empresa na época, que fazia apenas US$ 90 milhões em receitas e tinha menos de 150 milhões de usuários ativos mensalmente.
Sob essas premissas, a empresa foi avaliada em US$ 11 bilhões em 2015. Três anos depois, pouco antes do IPO, o Pinterest foi capaz de alcançar um crescimento formidável, porém bem abaixo das expectativas da a16z.
Ao final de 2018, de acordo com o seu prospecto de IPO, a empresa tinha 265 milhões de usuários ativos mensalmente (19% a menos que o estimado na rodada de captação de 2015) e somava receitas de US$ 756 milhões (cerca de 70% abaixo do esperado, mas ainda assim um crescimento de mais de 7x contra 2014).
Apenas neste ano de 2022, de acordo com as estimativas que os executivos do Pinterest compartilham com o mercado, a empresa alcançará a marca de US$ 2,8 bilhões de receita anual, que era esperada para 2018.
Valuation importa
Há uma série de detalhes que eu gostaria de me aprofundar sobre a história de investimento em Pinterest nesses últimos 3 anos, desde o seu IPO, porém não conseguirei fazê-lo devido ao tamanho dessa coluna.
Mas há um ponto específico, fácil de ser compreendido, que espero ter deixado claro nas minhas descrições: valuation e expectativas sempre importaram — mesmo quando muitos investidores diziam que não. E, neste momento, o que o mercado nos oferece é um ambiente contrário ao de quando a a16z investiu no Pinterest.
Ao invés de absurdamente otimistas, o mercado embute um enorme pessimismo nas projeções das empresas de tecnologia. Se você estiver interessado, eu posso te apresentar mais de 15 de casos de investimentos em tecnologia que oferecem uma enorme oportunidade neste momento.