O combo de inflação acima do previsto e incerteza fiscal já costuma ser desastroso para as incorporadoras da B3. Mas, quando vem acompanhado de resultados financeiros fracos, o saldo final pode ser ainda pior, como demonstrou a MRV (MRVE3) nesta quinta-feira (10).
As ações da construtora recuaram 6,03%, a R$ 8,88, hoje. O desempenho coloca a empresa entre as maiores quedas do índice imobiliário da B3 em um dia no qual o setor recuou em bloco.
Lavvi (LAVV3), Moura Dubeux (MDNE3) e Trisul (TRIS3), que também divulgaram seus balanços do terceiro trimestre ontem, não escapam do pessimismo com a construção civil e anotaram perdas de 6,5%, 7,5% e 6,5%, respectivamente.
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MRV (MRVE3) — Resia não salvou desta vez
“Outro trimestre fraco, mas vemos sinais encorajadores”: é assim que o BTG Pactual resume o balanço da MRV (MRVE3). O lucro líquido da companhia caiu 97,3%, na comparação com o terceiro trimestre de 2021, e ficou em R$ 2 milhões.
Segundo o Santander, os resultados abaixo do esperado foram prejudicados pela combinação de vendas mais fracas e uma queima de caixa maior que a prevista na divisão brasileira e nos Estados Unidos.
Por falar na operação norte-americana, a Resia vinha salvando os balanços da MRV até agora. Por isso, a ausência de vendas da subsidiária foi duramente sentida. E a queima de caixa, também.
“A MRV reportou uma queima de caixa total de R$ 1,2 bilhão. A maior parte, R$ 969 milhões, está associada à Resia”, destaca o banco.
Mas o gasto alto é esperado pelas características da operação e não deve ser um problema nos próximos balanços, conforme explica Genial Investimentos: “a MRV tem múltiplas linhas de defesa que devem blindar os acionistas mesmo com um mercado imobiliário amargo nos EUA.”
Cenário negativo já está precificado nas ações da MRV, mas a Resia ficou de fora
Apesar de o balanço ter decepcionado, os analistas de Bank of America, BTG Pactual, Genial Investimentos e Santander seguem recomendando a compra das ações MRVE3. A tese de investimentos varia de casa para casa, mas há dois elementos em comum.
O primeiro é a crença de que a Resia ainda não está precificada nos papéis. Os analistas acreditam que a subsidiária pode gerar valor para os acionistas mesmo após ter a capitalização suspensa.
O segundo é o desconto na B3: as ações da companhia acumulam queda de cerca de 15% no último mês. Na visão dos analistas, a baixa implica na precificação de um cenário muito negativo para o próximo ano.
“Investidores que podem esperar por cerca 12 meses certamente encontrarão um bom ponto de entrada e uma empresa muito mais lucrativa — as margens, ROE e FCF definitivamente melhorarão no futuro”, prevê o BTG Pactual.
Confira abaixo o preço-alvo e o potencial de alta calculado por cada uma das casas:
- Bank of America: R$ 15 (+72,4%)
- BTG Pactual: R$ 15 (+72,4%)
- Genial Investimentos: R$ 15 (+72,4%)
- Santander: R$ 19 (+118,4%)
Outros destaques da construção civil na B3
Conforme indicado no início do texto, outras três companhias do setor divulgaram os resultados na noite de ontem.
Para o Itaú BBA, a Lavvi entregou uma margem bruta melhor que a antecipada, de 37,6% no trimestre, com queda de 5,6 pontos percentuais na comparação com o 3T21. Apesar disso, o banco não mudou sua visão conservadora para as ações LAVV3.
Mas haverá um novo fator a ser considerado em breve. O Itaú relembra que a companhia anunciou a intenção de entrar no programa Casa Verde e Amarela após a aquisição de um terreno com Valor Geral de Vendas (VGV) potencial de R$ 270 milhões.
A Moura Dubeux (MDNE3), por outro lado, reportou uma margem bruta de 31,9%. O indicador recuou 6,3 p.p. na base anual e ficou abaixo da previsão do banco.
“No entanto, o resultado financeiro mais forte compensou a perda de margem”, escrevem os analistas, em relatório divulgado hoje. O lucro líquido da construtora nordestina saltou 53,2% e chegou a R$ 40,66 milhões.
Por fim, a Trisul (TRIS3) apresentou resultados “fracos” e abaixo da expectativa da XP para o terceiro trimestre. Os números refletem o também enfraquecido desempenho operacional da empresa, com desaceleração das vendas líquidas e ausência de lançamentos.
Pressionado pelo o crescimento das despesas administrativas e financeiras, o lucro líquido da companhia caiu 69,5% ante o terceiro trimestre do ano passado, para R$ 10 milhões. “Além disso, a margem bruta atingiu 30,4% devido a pressão nos custos e o mix de receitas”, ressalta a corretora.