Ao contrário do que muitos agentes do mercado apontavam, o dia após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva nas urnas foi de ganhos para a bolsa brasileira, empurrada pela forte entrada de capital estrangeiro no país.
Nesta quinta-feira (03), a B3 atualizou o balanço da participação no volume total transacionado na bolsa em outubro e foi possível notar que quase R$ 2 bilhões vieram do bolso do investir gringo.
Ou seja: até o momento, o mercado brasileiro viu a entrada de R$ 101,7 bilhões de investimentos estrangeiro no país em 2022, bem acima dos R$ 50,7 bilhões registrados em 2009 — o recorde anual a ser batido.
Contrariando a tendência vista nos anos anteriores, o mercado secundário foi o responsável pela entrada de R$ 84,8 bilhões, contra apenas R$ 16,8 bi vindo de ofertas primárias e secundárias de ações — desses, cerca de R$ 10 bilhões vieram da capitalização da Eletrobras.
A entrada de R$ 14,1 bilhões em outubro fez com que o saldo mensal fosse o mais alto desde agosto.
“Efeito Lula”?
Apesar de o investidor estrangeiro ser tradicionalmente mais amigável à figura de Lula do que os agentes locais, o salto na entrada de recursos no país não parece se tratar apenas de uma reação pós-pleito.
Na visão de Rodrigo Barreto, analista da Necton Investimentos, o investidor estrangeiro não estava tão preocupado com as eleições quanto os agentes domésticos, com o fluxo se mantendo consistente ao longo de toda a campanha.
Na percepção de Matheus Pizzani, economista da CM Capital, o indicador já vinha esboçando recuperação ao longo dos dias anteriores, de maneira que o resultado não pode ser atribuído pura e simplesmente à vitória de Lula. Além disso, com dados defasados, não se pode traçar uma tendência de fluxo de capital estrangeiro em direção à economia brasileira.
Marcos Almeida, economista e diretor da WIT Exchange, aponta que o dia 31 foi dia de definição da PTAX, o que represou parte do fluxo estrangeiro até que a taxa fosse formada. "Certamente, muitos importadores aproveitaram essa forte queda e já pagaram os seus fornecedores”, aponta.
O que o gringo viu no Brasil?
Apesar de ser cedo para falar em um “efeito Lula”, não há como negar que uma série de fatores beneficiam a bolsa local.
O fim das eleições presidenciais é um deles, já que as incertezas no radar ficam menores e as atenções se voltam para quem será o escolhido pelo presidente-eleito para comandar a pasta da Fazenda. Mas não é só isso.
Para o analista da Necton, a bolsa brasileira se encontra em patamares de “crise”, negociando com múltiplos semelhantes aos vistos em momentos de grande instabilidade — como a crise do subprime, em 2008, e o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
A forte alta dos juros promovida no último ano pelo Banco Central e o patamar elevado de preço das commodities também favorecem o fluxo — levando o Ibovespa a ser o único no azul entre os principais índices acionários de países ricos e emergentes.
Apesar do alinhamento de diversos fatores que favorecem a entrada de dinheiro estrangeiro no país, Almeida, da WIT Exchange, não acredita que o ritmo deve se manter — as pressões inflacionárias nos Estados Unidos e a alta dos juros por parte do Fed devem levar a um aumento da saída de capital do país neste último trimestre.