Desde que o Grupo pão de Açúcar (PCAR3) concluiu com sucesso a cisão do seu braço de atacarejo Assaí (ASAI3) na bolsa, os analistas e investidores mais atentos estão na expectativa de que o GPA repita a dose para outros ativos que estão escondidos dentro do seu carrinho.
Além da rede de supermercados que dá nome ao grupo, empresas como o CompreBem, James Delivery, Stix, Cnova e Grupo Éxito também dentro do guarda-chuva, mas ainda são mal precificados pelo mercado, o que alimenta as expectativas de muitos sobre o potencial de valorização dos papéis de PCAR3.
Depois da saída o Assaí, a marca Extra também deixou o portfólio de ativos do GPA, com as operações mais esperadas pelos investidores passando a ser a venda da operação da Cnova, listada na EuroNext, e a do Grupo Éxito, rede de varejo alimentar adquirido em 2019 por R$ 9,5 bilhões e com forte presença na América Latina.
Não é raro que a especulação em torno desses dois aguardados eventos ganhem as manchetes dos cadernos de economia e negócios e movimentem as ações na bolsa de valores, mas na noite de ontem (05), as coisas ganharam ares mais oficiais.
Em fato relevante divulgado após o fechamento do mercado, o GPA (PCAR3) anunciou que pretende realizar a cisão do Grupo Éxito, dando sequência aos estudos já realizados pela companhia. A operação irá disponibilizar quatro ações ou recibos de ações do grupo colombiano para cada ação PCAR3 detida pelos acionistas.
Com isso, o GPA irá reduzir a sua participação de pouco mais de 96% para cerca de 13% até o primeiro semestre de 2023. Agora, a empresa precisa da aprovação dos credores e listagem dos ADRs e BDRs até o fim de 2022 e aguarda as aprovações necessárias até o primeiro trimestre do próximo ano.
O Grupo Casino, controlador do Pão de Açúcar, terá 34% das ações do grupo colombiano. O fim da cisão será marcado pelo pagamento extraordinário dos dividendos do Grupo Éxito. Segundo os analistas do UBS BB, hoje o GPA tem uma dependência menor dos dividendos herdados do Éxito, já que a venda da marca Extra para o Assaí gerou caixa e ajudou a empresa a melhorar o seu foco no braço de negócios brasileiro.
As ações de desinvestimento não devem parar por aí. O GPA mencionou que deve vender os 13% restantes de sua participação quando as condições de mercado estiverem favoráveis e o interesse em vender os 34% de sua participação na Cnova.
Acabou a espera?
De forma geral, os analistas apontam que o GPA tem potencial de destravar valor aos seus acionistas e veem a cisão de forma positiva.
Para o UBS BB, o aumento de liquidez das ações do Éxito, listadas na Colômbia, deve favorecer a precificação do ativo. De acordo com cálculos do Bradesco BBI, a conclusão da cisão pode gerar até R$ 4,1 bilhões em ganho de valor de mercado para os acionistas do GPA — algo ao redor de R$ 15 por ação — e melhorar os múltiplos atuais da companhia.
Mas ainda existem dúvidas sobre a operação. A primeira, é se existirá um bom momento de mercado para realizar a oferta. As demais envolvem a capacidade de se precificar de forma justa os ativos.
Os analistas da XP Investimentos concordam que a operação deve destravar valor ao acionista, mas estão preocupados com a liquidez do papel na Colômbia, uma preocupação que só deve ser resolvido no médio prazo e que é compartilhada com o Goldman Sachs.
“Acreditamos que as ADRs/BDRs de Éxito devem ter um desconto de liquidez, uma vez que o total de ações em circulação seria basicamente composto por acionistas de GPA [...]. Apesar disso, vemos o Grupo Éxito como um ativo defensivo para se ter, com sólido posicionamento de mercado, com crescimento e rentabilidade”. — XP Investimentos
Os múltiplos descontados do Éxito na bolsa colombiana, no entanto, tendem a reduzir os riscos de queda, segundo o BBI.
Para o Bank of America, outra preocupação a ser levada em conta é a percepção de risco político na Colômbia, já que os esforços para restringir a participação estrangeira em empresas locais pode depreciar o valor do Éxito após a operação. A precificação justa do papel, aliás, é citado pelo Credit Suisse como um risco.
Mas por que as ações de PCAR3 caem hoje?
Apesar da tão aguardada operação ser bem vista pelo mercado, as ações do Grupo Pão de Açúcar operaram em forte queda nesta terça-feira (06).
Por volta das 15h, os papéis recuavam 3,21%, aos R$ 22,94. Na mínima do dia, os ativos chegaram a valer R$ 22,96. As ações acabaram fechando em baixa de 4,73%, cotadas a R$ 22,58.
As incertezas que ainda rondam o modelo proposto para cisão pode ser uma das razões . Mas não dá para deixar de citar o comportamento visto nos papéis nos últimos dias — principalmente o pregão da última segunda-feira (05), dia em que o GPA anunciou que irá seguir com a transação.
O fato relevante com a informação foi divulgado após o fechamento do mercado, mas ao longo de todo o dia as ações operaram em forte alta de cerca de 10%, liderando os ganhos do Ibovespa. Questionada sobre as movimentações atípicas com os papéis, o Grupo Pão de Açúcar disse não ter conhecimento de dados que não tenham sido divulgados.
Os analistas do Bradesco BBI, no entanto, lembram que o anúncio da cisão entre GPA e Assaí também não foi recebido positivamente de forma imediata, mas foi o gatilho que fez a companhia se valorizar mais de 30% em pouco mais de um mês.
Vale destacar que a cisão das empresas que hoje existem dentro do guarda-chuva do GPA não foi a única especulação alimentada nos últimos dias nos corredores do mercado.
Na semana passada, uma publicação do Broadcast disse que o empresário Abílio Diniz poderia estar interessado na compra dos ativos detidos pelo grupo francês Casino, controlador do GPA. A empresa negou as negociações. Nos últimos 30 dias, os papéis de PCAR3 acumulam ganhos de 40%. No ano, as perdas ainda ultrapassam chegam a quase 20%.