O Ibovespa abriu em queda nesta sexta-feira (21), após três pregões de alta, contaminado pela cautela vinda do exterior e os temores em relação à Proposta de Emenda à Constituição (PEC), que vem sendo negociada pelo governo para reduzir os preços dos combustíveis e da energia elétrica.
As bolsas europeias fecharam no vermelho, e as bolsas em Nova York abriram em baixa, contaminando as negociações por aqui. Os índices americanos até chegaram a virar para alta no início da tarde, mas voltaram a cair. Há pouco, aprofundaram as quedas: o Dow Jones tinha baixa de 1,08%, o S&P 500 recuava 1,72%, e o Nasdaq tinha perdas de 2,40%.
O mercado internacional permanece de olho na invasão iminente da Rússia à Ucrânia, fora os temores em relação à inflação no mundo e a uma possível desaceleração da economia chinesa.
Assim, principal índice da B3 tem dia instável, alternando altas e baixas. Por volta das 17h30, o Ibovespa tinha queda de 0,17%, a 108.918 pontos, perdendo os 109 mil pontos. O dólar à vista fechou em alta de 0,72%, a R$ 5,4553.
A PEC dos combustíveis, como vem sendo chamada a proposta do governo para reduzir os preços dos combustíveis e da conta de luz, é um fator de pressão sobre o risco fiscal e, consequentemente, pode pesar sobre os juros futuros e o câmbio.
A intenção do projeto é retirar os tributos federais dos preços da gasolina, do diesel e do etanol, zerando as alíquotas de PIS/Cofins, o que pode gerar uma redução de R$ 50 bilhões na arrecadação federal, segundo uma fonte da equipe econômica informou ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Estadão.
Caso seja incluída também a isenção desses tributos sobre a conta de luz, o rombo pode chegar aos R$ 57 bilhões, disse essa mesma fonte. Ainda segundo o Broadcast, técnicos da equipe econômica são contra a PEC, por ter um impacto muito grande nas contas públicas para uma redução de apenas cerca de 20 centavos por litro de combustível.
Com a lembrança do drible no teto de gastos feito pela PEC dos precatórios ainda fresca, o mercado deve ampliar seus temores em relação ao risco fiscal com a nova PEC.
Hoje, os juros futuros fecharam com sinais mistos. Veja o desempenho dos principais contratos:
- Janeiro/23: queda de 11,892% para 11,875%;
- Janeiro/25: alta de 11,063% para 11,185%;
- Janeiro/27: alta de 11,097% para 11,30%.
E ainda existe um impasse com o Orçamento de 2022, que precisa ser aprovado ainda hoje pelo presidente da República, Jair Bolsonaro. O reajuste de policiais federais gerou desagrado em outros setores do funcionalismo.
Clima negativo no exterior
Nesta sexta, pesa sobre o Nasdaq o desempenho das ações da Netflix (NFLX), que desabam mais de 20% hoje, após a divulgação de um balanço que desagradou o mercado. A empresa lucrou mais que o esperado no quarto trimestre de 2021, mas houve uma desaceleração no crescimento do número de assinantes.
Na Europa, os mercados reagiram mal aos dados fracos de vendas do varejo no Reino Unido, que caíram 3,7% em dezembro ante novembro, bem acima do recuo de 0,6% projetado pelos analistas ouvidos pelo jornal The Wall Street Journal.
Também pesaram por lá o desempenho das petroleiras, prejudicadas pela queda de mais de 1% nas cotações do petróleo nesta sexta, num movimento de realização de lucros depois das altas dos últimos dias. Por aqui, porém, as ações da Petrobras operam com sinais mistos hoje.
O índice pan-europeu Stoxx 600, que reúne as principais empresas do Velho Continente, fechou em baixa de 1,84% nesta sexta, recuando 1,40% na semana, diante das expectativas de alta de juros nos EUA, que sacrificaram sobretudo as empresas de tecnologia.
Fed no horizonte
Na próxima quarta-feira (26) ocorre a reunião do Fomc, o comitê de política monetária do Federal Reserve, o banco central americano.
O evento mais esperado do mês não deve trazer surpresas, uma vez que o Fed só deve elevar os juros em março, mas o mercado tem monitorado com atenção quaisquer manifestações dos dirigentes da instituição em relação à política monetária.
Na ocasião, o banco central americano deve dar maiores detalhes sobre o tapering, o processo de retirada de estímulos da economia por meio da compra de ativos, além de dar mais clareza quanto ao número de altas de juros ao longo deste ano.
Analistas internacionais esperam que o BC eleve os juros entre três e cinco vezes ainda em 2022.