No início da década passada, tentar pegar um táxi em uma cidade como São Paulo em dia de chuva era tarefa que exigia muita paciência: os valores eram altos e você ainda corria o risco de ser atendido por um motorista, no mínimo, não muito alinhado com suas expectativas.
O imbróglio é parecido com o que empresas de tecnologia têm de lidar hoje para buscar profissionais da área. Há poucas pessoas qualificadas para a mão de obra, que é crescente no Brasil. Fora isso, sempre há um risco de o escolhido não ser a cabeça ideal para determinado projeto.
Uma startup chamada Cognitivo está de olho nessa demanda e quer se tornar uma espécie de Uber dos profissionais de tecnologia — ou um "marketplace de experts gerenciado com inteligência artificial", segundo o cofundador e CEO da empresa, Raul Magno.
A companhia fechou recentemente uma captação de R$ 2,4 milhões em uma rodada de investimentos com a Empiricus (do mesmo grupo do Seu Dinheiro), Visagio, Next e Alievo. O plano agora é investir na captação de clientes, duplicar o banco de talentos e triplicar a receita.
It's a match
A Cognitivo tem uma plataforma em que profissionais de dados — são cerca de 800 — são cadastrados no sistema depois de uma triagem rigorosa (apenas 4% são aprovados no processo). Uma vez dentro da plataforma, eles ficam disponíveis para projetos em outras empresas.
O algoritmo então seleciona os profissionais que fazem parte dessa base para atender as companhias que recorrem à startup conforme o problema que elas precisam resolver. O que remete a outro aplicativo famoso, o Tinder, só para relacionamentos na área de tecnologia.
O entrave da empresa-cliente pode virar um desafio para a equipe contratada pela plataforma da Cognitivo, que por sua vez tem chances de se materializar em predição, otimização ou recomendação para a empresa.
A solução da Cognitivo passa por engenharia de dados — busca de tendências através de um conjunto de informações —, "analytics" — encontro de padrões com base em matemática, estatística, entre outros — e inteligência artificial.
“A ideia é construir ao longo do tempo soluções que ajudem empresas a saírem de um estágio em que não sabem nada de dados até o momento em que as soluções são todas tomadas com base nos dados ou pelos algoritmos”, diz o CEO da Cognitivo.
De fora para dentro
Magno fundou a Cognitivo há três anos, depois de notar que as empresas tinham "dificuldade em gerar valor no negócio com o uso de dados". O empresário havia acabado de voltar a morar no Brasil e trabalhava em uma agência de viagens como responsável pela área de dados.
Segundo ele, havia problemas de contratação de profissionais de áreas relacionadas — que eram caros e incompletos, diz. "Quando o profissional, depois de meses contratado, estava 'pronto', vinha um 'Nubank' e o tirava da empresa."
Magno afirma que, na época, existiam empresas nos Estados Unidos fazendo o que faz hoje a Cognitivo, mas no Brasil não havia quem despenhasse a mesma função.
O que impede então que hoje alguém crie uma plataforma como a da Cognitivo? Segundo Magno, a "comunidade" montada pela empresa é uma barreira de entrada no mercado. "Além disso, nós desenvolvemos um conjunto de tecnologias e metodologias que não se criam do dia para noite."
Em três anos, a startup contabiliza cerca de 150 projetos, com empresas como Magazine Luiza, Fleury, Globo Play e Claro. Mas os clientes não se restringem aos gigantes, diz Magno. "Os dados precisam ser vistos como ativos por todos."
Quem, de certa forma, "manipula" esse ativo vê na plataforma da empresa uma oportunidade para diversificar o portfólio, ter flexibilidade de horário e aumentar a própria renda. "Há profissionais que chegam a ganhar R$ 18 mil por mês, mas depende da senioridade", diz Magno. A Cognitivo tem uma assessoria jurídica e diz tomar o cuidado de não chamar os mesmos profissionais de maneira consecutiva.