A decisão da autoridade regulatória do Paraná de aprovar um reajuste menor que o esperado das tarifas da Sanepar (SAPR11) continua repercutindo mal no mercado.
Citando aumento dos riscos de interferência estatal, o Credit Suisse anunciou nesta terça-feira (5) que rebaixou a recomendação para as units da empresa de saneamento de neutro para venda, reduzindo o preço-alvo de R$ 29,30 para R$ 27,10.
Na semana passada, a Sanepar divulgou que a Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados do Paraná (Agepar) redefiniu seu reajuste anual da tarifa de água e esgoto, que estava suspenso desde setembro, em 5,11%. O aumento passará a valer a partir de 5 de fevereiro.
O problema é que ele ficou abaixo do que a própria Agepar tinha definido em agosto, uma alta de 9,62%. Este reajuste estava previsto para começar em outubro, mas o governo do Paraná suspendeu sua aplicação em setembro.
Barata, mas arriscada
Para reduzir o reajuste da tarifa, a Agepar excluiu provisoriamente a parcela do diferimento referente à revisão tarifária periódica de 2017, que era de 3,4439%. Essa porcentagem corresponde à quarta parcela da recomposição do congelamento tarifário ocorrido entre 2005 e 2010.
A autarquia também substituiu o Índice Geral de Preços Mercado (IGP-M) pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para realizar os reajustes.
Os analistas Carolina Carneiro, Rafael Nagano e João Rodrigues avaliam que a decisão da Agepar ofusca o fato de as units da Sanepar estarem descontadas, o potencial de investimentos criado pelo novo marco de saneamento e a possibilidade de novas revisões para cima das tarifas.
“A decisão de interferir em uma metodologia válida para tarifas ao não aplicar a fórmula tarifária com o deferimento, como acertado em 2017, e as grandes baixas contábeis para a base de ativos regulatórios é um risco elevado que não deveria ser ignorado pelo mercado, em nossa opinião”, diz trecho do relatório do Credit Suisse.
Repercussão
No dia seguinte ao anúncio da decisão, 30 de dezembro, as units da Sanepar fecharam com queda de 6,41%. Na segunda-feira (4), primeiro pregão de 2021, os papéis continuaram sentindo as consequências – caíram 3,42%, a R$ 25,11. Hoje, as units caíram mais 3,35%, a R$ 34,27.
Além do Credit Suisse, o Bradesco BBI foi outro banco que rebaixou sua recomendação para a Sanepar, de compra para neutro. "Em nossa visão, o regulador parece preocupado em evitar uma tarifa ‘alta’, o que nunca é um bom sinal ou política para investidores", diz trecho do relatório assinado pelos analistas Francisco Navarrete, Bruno Reis e Jonny Oda.