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O que um investidor suíço diria ao colega que opera no mercado brasileiro

Pilha de moedas forma bandeira da Suíça

Noah é um banker em Zurique, a capital financeira do mundo, onde contas fantasmas e cofres com acrônimos de nomes de famosos guardam segredos cujo valor nenhuma planilha seria capaz de estimar.

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Esse é um dia típico na vida de Noah: o despertador toca às 07h45, mas ele sempre levanta às 08h. 

Ele se arruma rápido, pega o sobretudo preto, cachecol bege, dá um beijo na Mia e nas crianças, e então vai direto para o bondinho. 

No caminho, ele reflete sobre como os fundos da família estão apertados. Se não performar, vai ser difícil mandar o Zack estudar em Stanford ano que vem. 

E a Lucy? Organizou um mochilão com as amigas pelo sudeste asiático. Elas são minimalistas, carregam apenas a roupa do corpo (e o cartão do papai).

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Enfim, 25 minutos depois, Noah está no escritório. Para variar, não tinha trânsito, ele apenas se estressou com um fato absurdo: o bondinho ainda não tinha carregador para o iPhone 12. Que merda. 

Começa o pregão

Seguindo seu ritual, Noah vai à copa antes do terminal da Bloomberg começar a alternar incessantemente as cores verde e vermelho. 

Ali ele sofre a segunda frustração do que será um dia daqueles: acabou o cappuccino caramelizado. Vai o expresso duplo mesmo, mas não sem antes protocolar uma reclamação sobre o péssimo serviço do pessoal da copa. 

"Esses imigrantes, só querem vida fácil, abusar do nosso sistema de saúde e roubar os empregos dos nossos jovens."

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Passado o estresse, é hora de sentar no computador. 

Quer dizer, não exatamente sentar... 

Noah faz acompanhamento com um coach de postura, que o instruiu a começar o dia com um setup mais dinâmico, ficando de pé em frente aos seus oito monitores. 

Os futuros do franco suíço o assustam: estão caindo incríveis -0,5%. 

"Isso deve dar quase uns 2 desvios padrões da média", pensa Noah. 

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"Caralho, preciso olhar o book de ações". 

Nestlé está caindo -0,45%; Novartis -0,8% e o Credit Suisse, o banco dos bancos, caindo impressionantes -1,2%.

Noah permanece imóvel, pensativo. Ele não se lembra da última vez em que viu tanta volatilidade numa abertura. 

Ao que parece, o sell-off nos ativos de risco suíços é motivado por uma revisão de estimativas. 

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O lucro da Nestlé para o ano que vem, na opinião dos analistas, deve cair vertiginosamente!

Um tombo de 76 bilhões de francos suíços, para 74,3 bilhões!

Noah está fora de si. Parte importante dos 5% de ações que ele carrega na sua carteira pessoal estão nas ações da Nestlé. 

O almoço não cai bem

Perto da hora do almoço, alguns boatos começam a pipocar no terminal da Bloomberg. 

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Conversas de bastidores dizem que o Banco Central Europeu está pensando em reduzir o nível de estímulos. 

Rapidamente, os juros explodem. 

Os juros suíços com vencimentos em 10 anos saem do patamar de -0,2% em rendimentos ao ano e sobem para 0%!

Noah olha para o lado, todos seus companheiros estão com os olhos arregalados. 

Ele tira o cachecol e reclama: 

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"Porra, alguém diminui esse ar, tá quanto aqui? Uns 21 graus? Que tipo de vida inteligente pode existir num ambiente com mais de 21 graus de temperatura?"

Seu pedido é atendido, mas o sell-off continua. 

Ele pensa em ligar para Lucy, avisar que ela vai precisar tirar o Marrocos do roteiro. Pensa numa mentira. Ou será melhor propor que ela faça duas viagens, a outra daqui 6 meses? Até lá, certeza que tudo estará bem. 

Mas a angústia dura pouco. 

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Apenas 30 minutos após o susto, o BCE chama uma entrevista coletiva em que todos os seus diretores estão alinhados, com gel no cabelo e discurso na ponta da língua. 

"Whatever it takes!"

 O dia fecha estável e Noah respira aliviado. 

Bora para o Happy Hour da firma. 

Países emergentes?

No bar, Noah senta ao lado do Mark, ele é responsável no banco por acompanhar o mercado brasileiro. 

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Eles o chamam de Markinho, pois no Brasil, todo mundo que é foda têm um "inho" no nome. Ronaldinho Gaúcho, Ronaldinho Fenômeno, Bernardinho (o treinador de vôlei que ele adora)... 

Ele pergunta para o Markinho: como estão as coisas no Brasil? 

Mark respira fundo:

"Cara, não sei por onde começar. Parece que o presidente que era liberal interveio na maior empresa do país e no dia seguinte disse que ia privatizar outra empresa gigante. Aí parece que soltaram o ex-presidente que tava preso por cometer os maiores crimes de corrupção da história do Brasil e agora querem prender o juiz que condenou ele por cometer esses crimes. 

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Ah, também parece que esse juiz poderia ser candidato na próxima eleição. Agora eu não sei, ouvi boatos que um apresentador de TV também vai ser candidato. 

Esse apresentador é brother do ex-presidente que tava condenado. 

O que não vi muita coisa foi sobre a vacina. Parece que o presidente atual quer repetir o sucesso da campanha do exército contra a dengue, e acabar com o COVID tirando água parada da casa das pessoas. Não tenho certeza se é isso, mas faz sentido… se não, porque colocar um general como Ministro da Saúde? 

Outra coisa: a Petrobras, dia desses, caiu uns 20% num único pregão…

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Mas e aí Noah, como foi seu dia?"

Noah está com os olhos arregalados. Ele dá um gole bem dado em seu chopp e responde:

"Cara, o meu dia foi perfeito."

Contato

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Um abraço!

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