A espera acabou. Depois de 20 meses sem poder voar, os aviões 737 Max da Boeing foram liberados pela Administração Federal de Aviação dos Estados Unidos (FAA, na sigla em inglês) para voltarem a operar.
As autoridades de todo mundo ordenaram a paralisação de voos com o modelo depois que a queda de duas unidades, entre 2018 e 2019, primeiro na Indonésia e depois na Etiópia, matarem 346 pessoas.
Os acidentes forçaram a Boeing a realizar uma revisão completa do projeto da aeronave. Uma investigação do Congresso americano concluiu que as quedas do 737 Max foram resultado de falhas da Boeing e falta de supervisão da FAA.
No Brasil, porém, os aviões ainda não poderão operar. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) informou que a liberação ainda depende do término dos trabalhos de validação das modificações do projeto.
"O objetivo é demonstrar que o projeto com as modificações propostas é seguro e atende aos requisitos de aeronavegabilidade necessários", diz trecho do comunicado.
Retomando
A Boeing foi obrigada a realizar atualizações no software responsável por prevenir a perda de sustentação, chamado MCAS, considerado o responsável pelos acidentes por ter empurrado o nariz do avião para baixo, enquanto os pilotos tentavam puxar para cima. Ela também terá de oferecer treinamento aos pilotos das companhias que comprarem o modelo.
O episódio resultou em US$ 20 bilhões em custos diretos para a companhia, incluindo as indenizações a consumidores do avião e despesas com a revisão do projeto da aeronave.
Ainda que possa retomar a entrega de unidades do 737 Max para as empresas aéreas, a situação da Boeing ainda está longe do ideal. A pandemia de covid-19 fez muitas companhias aéreas e de arrendamento de aviões cancelarem suas encomendas. No acumulado do ano até 30 de setembro, as entregas de aeronaves comerciais recuaram 67%, para 98 unidades, fazendo a receita da divisão cai 54%.
Liberação ainda depende do término dos trabalhos da Anac
A Anac afirmou que a liberação do retorno das operações das aeronaves modelo Boeing 737-8 MAX no Brasil ainda depende do término dos trabalhos realizados pela agência quanto ao processo de validação das modificações do projeto. "O objetivo é demonstrar que o projeto com as modificações propostas é seguro e atende aos requisitos de aeronavegabilidade necessários", disse a Anac.
A Anac destacou que a decisão da FAA, que aprova as modificações necessárias para que a aeronave volte a ser operada nos Estados Unidos, foi resultado de um trabalho realizado em conjunto com a Anac e outras autoridades de aviação civil no mundo, em especial a autoridade europeia European Aviation Safety Agency (EASA) e a canadense Transport Canada Civil Aviation (TCCA). "A partir desta diretriz da FAA, a Anac procederá com os ajustes finais para conclusão do processo de validação para retorno do modelo Boeing 737- 8 MAX no Brasil", disse.
Após o término desse trabalho, a agência disse que a Gol Linhas Aéreas deverá incorporar e demonstrar "de forma satisfatória o cumprimento de todas as novas diretrizes, tanto em termos de projeto quanto de treinamento de pilotos".
Desde abril de 2019, quando a Boeing iniciou as atividades para certificação das modificações propostas, a Anac vem participando de um grupo para análise desses estudos. Ao todo, cerca de 20 profissionais da agência, dentre engenheiros(as) de diversas especialidades e pilotos, inclusive de ensaio de voo, participaram do processo.
"Este esforço é exemplo de cooperação entre autoridades da aviação civil, apenas alguns países têm experiência para certificar um sistema tão complexo. No entanto, a Anac trabalha com avaliações independentes para assegurar que todos os requisitos necessários serão atendidos no retorno seguro das operações dessas aeronaves no Brasil", destaca o presidente substituto da Anac, Rafael Botelho, em nota.
* Com informações de agências internacionais