A Multiplan anunciou, na noite desta quarta-feira (29), um lucro líquido de R$ 177,7 milhões no primeiro trimestre de 2020, alta de 93,3% em relação ao mesmo período de 2019, quando o resultado foi positivo em R$ 91,9 milhões. Nos últimos 12 meses, o crescimento foi de 19,3%, atingindo R$ 556,8 milhões.
Já o Ebitda (Lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) foi de R$ 343,7 milhões no período, um aumento recorde de 49,1% na comparação anual. Em 12 meses, a alta foi de 10,3%, para R$ 1,045 bilhão.
A companhia é a primeira operadora de shopping centers a divulgar resultados depois que a pandemia de coronavírus obrigou o fechamento da maior parte do comércio em todo o país. As medidas de "lockdown" começaram a valer em meados de março e já exibiram impactos neste primeiro balanço do ano.
Os efeitos não ficam claros à primeira vista, mas boa parte do crescimento do lucro líquido e do Ebitda da Multiplan deveu-se a medidas de cortes de custos, reversão da remuneração baseada em ações (voltada para executivos) e a um evento não recorrente, o ganho de R$ 48,3 milhões após aquisição de participação na Manati, empresa detentora do Shopping Santa Úrsula.
Excluída a remuneração baseada em ações contabilizada em ambos os períodos, o lucro líquido apresentaria um crescimento de 51,3% ante o mesmo período do ano anterior, atingindo R$ 155,7 milhões com uma margem de 47,8%. Já o Ebitda teria crescido 33,2%.
Também contribuiu para o resultado um aumento de 5,9% na receita líquida na comparação anual, para quase R$ 326 milhões.
A receita bruta totalizou R$ 353 milhões, alta de 3,8% sobre o primeiro trimestre de 2019, "beneficiada pelas recentes aquisições e pelo desempenho durante os dois primeiros meses do trimestre, apesar dos impactos causados pela suspensão temporária de todas as operações em março", diz o comunicado divulgado pela empresa.
Outro fator que teve efeito sobre o lucro líquido da Multiplan foi a queda nas despesas financeiras após renegociações de dívidas e a queda na taxa Selic (a maior parte da dívida da empresa é indexada ao CDI). O custo da dívida da companhia atingiu o menor patamar da sua história, 4,73% ao ano no final de março.
Janeiro e fevereiro ainda seguraram a onda
O balanço do primeiro trimestre não chegou a ser amplamente impactado pelos efeitos do coronavírus, porque até a metade de março os shoppings ainda funcionaram normalmente. Mas uma análise dos dois primeiros meses e do mês de março mostra que, apesar das medidas de contenção de custos, o fechamento da maior parte das lojas - com exceção de serviços essenciais, como supermercados e farmácias - cobrou seu preço.
Isso fica bem nítido quando se analisam os indicadores de vendas. As vendas dos lojistas tiveram sua tendência de alta interrompida. O indicador cresceu 7,8% na base anual nos meses de janeiro e fevereiro, para R$ 2,5 bilhões. Se incluída a primeira metade de março, o crescimento foi de 7,3% em relação ao mesmo período de 2019.
No entanto, quando contabilizado o trimestre inteiro, as vendas dos lojistas caíram 10,2% em relação ao primeiro trimestre de 2019, para R$ 3,1 bilhões, impactadas justamente pela suspensão temporária das atividades a partir de 18 de março em razão do coronavírus.
Já indicador vendas mesmas lojas (referente às vendas de lojas em funcionamento há mais de um ano) subiu 5,5% no primeiro bimestre ante o mesmo período do ano anterior, mas caiu 11,8% no trimestre na comparação anual.
A mesma tendência é observada nas receitas com estacionamento (alta de 9,0% nos dois primeiros meses, mas queda de 11,3% no trimestre, atingindo R$ 46 milhões) e nas receitas com locação (alta de 9,0% nos dois primeiros meses, mas queda de 5,6% no trimestre, atingindo R$ 236,3 milhões).
O valor do aluguel nas mesmas lojas caiu 9,1% para R$ 108/m² por mês sobre o primeiro trimestre de 2019, primeira retração trimestral desde a abertura de capital da companhia.
No caso dos aluguéis, a Multiplan explicou que as receitas foram impactadas pelas melhores condições oferecidas aos lojistas em razão da suspensão das atividades a partir de meados de março. A companhia ofereceu um desconto de 50% no aluguel aos inquilinos que cumprissem suas obrigações contratuais.
A taxa de inadimplência no trimestre foi de 2,7%, apenas ligeiramente maior que a taxa de 2,4% do primeiro trimestre de 2019.
Empenho no corte de custos
Por outro lado, a Multiplan se empenhou no corte de custos, o que ajudou no resultado. A paralisação das atividades nos shopping centers inclusive possibilitou essa economia.
Na comparação anual, houve uma queda de 11,7% nas despesas de sede e 16,7% nas despesas de propriedades (shoppings + torres corporativas). Este último item, no entanto, foi impactado por um evento não recorrente, despesas de IPTU parcialmente compensadas pelas recentes aquisições e provisões de inadimplência de aluguel de trimestres passados.
A manutenção de um caixa robusto também esteve entre as preocupações da companhia no primeiro trimestre. A Multiplan terminou o mês de março com R$ 1,15 bilhão em caixa, 25,8% a mais que no fim de dezembro de 2019, após assinar uma nova linha de crédito bilateral de R$ 250 milhões justamente para reforçar a liquidez.
Com essa nova linha de crédito e mais três obrigações decorrentes das recentes aquisições de participações minoritárias concluídas no primeiro trimestre, a dívida bruta da companhia foi para R$ 3,82 bilhões, alta de 21,5% ante o quarto trimestre de 2019 e 33,6% na comparação anual.
Já a dívida líquida foi para R$ 2,67 bilhões, alta de 19,8% ante o quarto tri e de 44,7% na comparação anual. A relação dívida líquida/Ebitda aumentou de 2,39 vezes em dezembro para 2,55 vezes em março.
Investimentos em ritmo mais lento
A Multiplan concluiu a aquisição de participações minoritárias em empreendimentos no primeiro trimestre, totalizando R$ 577,4 milhões. O total de investimentos no período teve valor de R$ 657,1 milhões.
A companhia resolveu suspender temporariamente os investimentos em projetos que estavam em estágios preliminares, assim como renovações de propriedades em operação.
Houve também a redução do ritmo da obra do Park Jacarepaguá, cuja abertura foi postergada para 2021.
"Além de considerar que o atual cenário pode levar a uma redução do ritmo de locação, a redução do CAPEX também visa preservar o caixa da Companhia. É importante destacar que nenhum projeto citado foi cancelado e todos devem ser retomados quando a Multiplan julgar apropriado, considerando sua estratégia de longo prazo", diz o comunicado divulgado pela empresa.