Depois de a Arábia Saudita anunciar descontos aos compradores de petróleo, aumentar a produção da commodity e contrariar o que estava estabelecido na Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), o grande problema agora é que haverá um "excesso de oferta em um momento em que é necessário haver corte de produção". Essa é a avaliação feita pelo gestor-sócio da Novus Capital, Ricardo Kazan.
Segundo ele, a razão é que o coronavírus vai gerar uma quebra na atividade global e impactar, especialmente setores como turismo e transportes. O problema é que hoje grande parte da demanda de petróleo está relacionada ao setor de transportes. “Como o setor deve ser afetado, isso faz com que haja um excesso de oferta. E diante da queda na demanda causada pelo coronavírus, deve haver um desequilíbrio no mercado”, aponta Kazan.
Com o aumento da oferta e queda na demanda, a expectativa do gestor é que haja um aumento de estoques de petróleo nos próximos três a quatro meses e com isso, o preço da commodity deve cair ainda mais.
Seguindo esse cenário global mais complicado, alguns setores também devem ser mais impactados do que outros no Brasil. Para ele, um dos que podem ser mais afetados é o setor de óleo.
Mesmo sem citar papéis específicos, as ações da Petrobras, por exemplo, sentiram bastante no pregão de hoje e lideraram as perdas do Ibovespa. Os papéis ordinários (PETR3) da companhia caíram 28,95% e fecharam em R$ 16,22. Já as ações preferenciais (PETR4) recuaram 28,60% e terminaram o dia cotadas em R$ 17,18.
Na contramão dos setores mais impactados, papéis de empresas que dependem menos do setor externo devem sentir menos como, por exemplo, ações de empresas mais voltadas para a economia doméstica”, afirma Kazan.
Bolsa: seguimos comprados
Mesmo com o cenário externo complicado, o gestor diz que não está pessimista com o Ibovespa. Ele destaca que reduziu posição em bolsa na semana passada, mas que agora o cenário abriu oportunidades. Kazan diz que está de olho em alguns ativos que estão com o preço mais atrativo, mas não cita papéis específicos.
Ele comenta ainda que a casa não trabalha com projeções para o principal índice acionário brasileiro e nem para o dólar, mas diz que há alguns fatores que devem fazer com que a bolsa volte a subir no médio e longo prazos.
Para ele, o fato de que a Selic está em um dos patamares mais baixos continuará a fazer com que os investidores permaneçam migrando da renda fixa para a renda variável.
Isso sem contar o fato de que o financiamento das empresas continua baixo no país e que o Brasil está passando por um processo de desalavancagem. O gestor destaca que o país segue reduzindo a relação entre a dívida pública e o Produto Interno Bruto (PIB).
“Continuamos vendo um estrutural de Brasil melhor, por isso seguimos confiantes na bolsa no médio e longo prazos. Nesse meio tempo, apenas iniciamos uma posição na parte curta da curva, mas podemos voltar a aumentar a posição em bolsa”, pontua o gestor.
De olho no coronavírus e na atividade
Agora no curto prazo, o que deve continuar impactando é que ainda não há uma estabilização no aumento do número de casos de coronavírus por dia, de acordo com Kazan.
"A gente vinha com uma taxa de aumento de 2 mil casos por dia e no fim de semana passado saltamos para uma taxa de 4 mil por dia. Hoje, olhamos o número de casos diários e as respostas tomadas pelos BCs e pelos governos para que haja uma estabilização desse indicador", destaca o gestor.
Outra coisa que está no radar no curto prazo é a questão da atividade brasileira, que permanece precisando de estímulos. Mas a indicação do BC é que a autoridade dispõe dos instrumentos necessários para promover isso ao mercado, segundo Kazan.
O gestor entendeu que o BC praticamente "sancionou" o corte de juros na próxima reunião, ao ouvir a fala do diretor de política monetária do Banco Central, Bruno Serra, feita hoje (9).
Na ocasião, o diretor do BC disse que a autoridade monetária está municiada dos instrumentos necessários para contrapor a disparada do dólar e os impactos do coronavírus sobre a atividade.
O único ponto que gerou certa dúvida na fala do diretor é de quanto será essa redução. Segundo ele, o BC reiterou que o cenário continua exigindo cautela e pode ser que o corte seja menor na próxima reunião.
Hoje, pela manhã, o diretor disse que “o atual estágio do ciclo econômico segue recomendando cautela na condução da política monetária”.
“De qualquer forma, acreditamos que o ambiente é deflacionário e requer uma política monetária expansionista por parte do BC e que exige juros mais baixos. Diante disso, o único aspecto que devemos revisar por agora é a inflação”, finalizou Kazan.