O homem responsável pelo ambicioso programa de privatizações do governo Bolsonaro fez duras críticas ao modelo de empresas controladas pelo Estado. Salim Mattar, secretário especial de desestatização e desinvestimento, lançou um desafio à audiência que o ouvia durante um evento hoje em São Paulo:
"Me apontem uma só estatal eficiente. Não existe", ele próprio respondeu, ao acrescentar que empresas eficientes não precisam de monopólio, em uma referência à Petrobras.
O plano do governo é conseguir US$ 20 bilhões com a venda de participações e privatizações neste ano. Até o momento, obteve US$ 12,1 bilhões, o equivalente a pouco mais de 60% do total.
Foram US$ 9,6 bi em privatizações e outros US$ 2,5 bilhões em desinvestimentos, como a venda da refinaria de Pasadena da Petrobras, além da oferta de ações da participação na resseguradora IRB realizada pela Caixa Econômica Federal em fevereiro.
"Espero que possa superar minha meta", disse Mattar, que participou de evento promovido pelo Itaú Unibanco.
A conta do R$ 1 trilhão
Os US$ 20 bilhões do primeiro ano ainda são pouco dentro do objetivo do governo de obter até R$ 990 bilhões dentro do plano de privatizações.
Mattar apresentou a conta, que inclui R$ 490 bilhões com a venda de estatais. Só em participações em empresas que podem ser negociadas o governo possui R$ 150 bilhões, segundo o secretário.
O governo federal também pretende auxiliar os Estados e municípios em seus processos de privatização. Existem hoje um total de 440 estatais que o governo conseguiu mapear, incluindo as 134 controladas pela União.
Mattar disse que as estatais dependentes do governo custam R$ 15 bilhões por ano aos cofres públicos.
Ele citou como exemplo a Valec, empresa de construção e à administração de ferrovias que conta com 826 empregados hoje.
"A ferrovia custou R$ 24 bilhões e a ferrovia por R$ 2,2 bilhões. São empresas dessa natureza que a gente não sabe por que ainda existem", disse.
Outros R$ 355 bilhões dentro do programa de privatizações virão da devolução de recursos emprestados aos bancos públicos federais, seja via instrumentos híbridos de capital e dívida (IHCD) ou em recursos concedidos para financiar a expansão do BNDES.
"Queremos o dinheiro de volta. O mercado de crédito tem que voltar a ser da iniciativa privada", afirmou.
O governo planeja ainda conseguir uma receita de R$ 115 bilhões com as concessões na área de infraestrutura e R$ 30 bilhões com a venda de imóveis da União.
Mattar disse que o governo possui hoje 743 mil imóveis. "Vamos vender o que for possível, mas temos que tomar cuidado para não derrubar mercado imobiliário", disse.
Alicerce podre
O secretário também não poupou os governos da chamada "social-democracia" que antecederam a gestão de Bolsonaro, que para Mattar é a primeira com orientação liberal na economia.
"A social-democracia construiu um alicerce podre no nosso país, está na hora de desconstruir isso", disse.
Para ele, o legado dos governos da social democracia foi o desemprego que chegou a 42 milhões de pessoas, além dos baixos índices de desenvolvimento humano (IDH) e de competitividade.
O secretário reafirmou que tem o apoio "incondicional" do presidente para as privatizações e diz carregar na pasta os discursos e posts de Bolsonaro.
Mas disse que é preciso ficar sempre atento, ao afirmar que existem hoje no Congresso projetos para a criação de duas novas estatais.
"Está perigando que, a cada uma que eu vendo, surgir uma nova", afirmou.