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Ação da MRV cai com incerteza e possível conflito de interesses com “sonho americano”

Empreendimento da AHS, empresa dos donos da MRV Engenharia

Empreendimento da AHS, empresa dos donos da MRV Engenharia

Líder no mercado de imóveis para o segmento de baixa renda no Brasil, a MRV Engenharia decidiu que é hora de ir além do Minha Casa Minha Vida e apostar no "My home my life". Mas o anúncio do investimento de até US$ 255 milhões (pouco mais de R$ 1 bilhão no câmbio de hoje) na AHS Residential, que constrói imóveis para alugar nos Estados Unidos, não pegou nada bem no mercado.

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Além da natural desconfiança com o passo que vai mudar a cara da empresa, o "sonho americano" chamou a atenção por outro motivo: a AHS é controlada pela família Menin, que também é a principal acionista da MRV.

A combinação de incerteza com um potencial conflito de interesses no negócio derrubou as ações da MRV (MRVE3), que fecharam em queda de 6,44% ontem na B3.

Para apagar o incêndio, a empresa promoveu um evento em São Paulo hoje pela manhã para dar mais detalhes do negócio. Depois do encontro, os papéis esboçaram uma reação e fecharam em alta de 1,41%. Leia também nossa cobertura completa de mercados.

Será que a queda recente abre uma oportunidade de compra para as ações? Acompanhe o texto que eu conto logo mais a opinião dos analistas que cobrem a empresa.

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Governança em xeque?

Os investidores têm certa razão ao ficar com o pé atrás. Não são poucos os casos no mercado brasileiro em que os minoritários foram passados para trás em negócios envolvendo os controladores.

A diferença é que os donos da MRV travaram uma parceria até aqui bem sucedida com o mercado de capitais. A construtora abriu o capital em 2007 e resistiu à crise econômica que varreu o setor imobiliário nos últimos anos. No ano passado, o grupo listou na bolsa a Log Commercial Properties, empresa de galpões que nasceu de uma "costela" da MRV.

A família Menin também é controladora do Banco Inter, que já conquistou mais de 3 milhões de clientes com sua conta digital sem tarifas. Desde que a instituição abriu o capital, em abril de 2018, as ações estão entre as que mais subiram de toda a bolsa.

Dado o histórico, eu acredito que é o caso de se dar um voto de confiança aos controladores da MRV, pelo menos do ponto de vista de governança. Mas isso não significa que a transação não tenha seus riscos.

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Detalhes do negócio

Após o negócio, a MRV passará a deter uma participação de 51% na empresa americana. A família Menin, que hoje possui 94,5% do capital, será diluída para 46,3%.

O dinheiro que a MRV vai desembolsar não vai para o bolso da família, mas para o caixa da AHS Residential, que atua na construção e administração do aluguel de imóveis residenciais.

O público-alvo da companhia é o segmento chamado de "workforce", de pessoas com renda média anual entre US$ 37 mil (R$ 151 mil) e US$ 87 mil (R$ 355 mil) no estado norte-americano da Flórida.

A AHS receberá o capital em partes, sendo a primeira, de US$ 46 milhões, em outubro deste ano. A segunda rodada vai variar de US$ 175 milhões a US$ 204 milhões entre 2021 e 2022, dependendo do sucesso do plano de crescimento da empresa.

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A transação já foi aprovada por um comitê independente formado por Sinai Waisberg, Betânia Tanure e Antônio Kandir e agora precisa ser aprovada pelos acionistas, em uma assembleia marcada para o dia 4 de outubro.

E as ações?

Pelos cálculos do Itaú BBA, feito com base nas estimativas feitas pela MRV, o retorno com o investimento na AHS pode ultrapassar a marca dos 20% nos próximos três anos.

Os analistas do banco têm recomendação equivalente à de compra (outperform) para as ações. Mesmo assim, consideram que se trata de um movimento questionável por parte da companhia.

"É uma transação grande para a MRV (de 11% a 13% de seu valor de mercado) e, portanto, pode afetar negativamente a política de dividendos da companhia nos próximos anos", escreveram os analistas, em relatório a clientes.

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Para o Bradesco BBI, que tem recomendação neutra para as ações, a aquisição pode ser representar uma potencial distração para a construtora brasileira, que enfrenta uma batalha árdua para atingir o plano de crescimento de 60 mil unidades por ano.

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