A tranquilidade no front político local seguiu influenciando os mercados brasileiros nesta quarta-feira (29). E, desta vez, o alívio foi sentido com mais intensidade no dólar à vista: a moeda americana fechou em queda firme de 1,18%, em R$ 3,9759.
O Ibovespa também continuou surfando a onda do otimismo doméstico e resistiu ao tom negativo das bolsas americanas. O índice abriu o dia no campo negativo, mas ganhou força e fechou com ganho de 0,18%, aos 96.566 pontos.
Essa onda de calmaria está relacionada à despressurização do cenário político. A sinalização de assinatura de um pacto entre os Três Poderes para a retomada do crescimento do país já animou os agentes financeiros na sessão de ontem — e, hoje, o noticiário continuou trazendo elementos animadores para os mercados.
Em destaque, está a aprovação da MP da reforma administrativa pelo Senado. O texto retirou o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) do ministério da Justiça, passando-o para o ministério da Economia, mas também reduziu de 29 para 22 o número de pastas com status ministerial — pauta considerada fundamental pelo governo.
Nesse contexto, o dólar à vista recuou. Já o Ibovespa, que chegou a cair aos 95.689,78 pontos logo após a abertura (-0,73%), logo se afastou das mínimas e, na máxima, bateu os 96.985,83 pontos (+0,62%).
O noticiário de Brasília aumentou a percepção de que o relacionamento entre o governo e o Congresso está mais alinhado — o que, consequentemente, eleva o otimismo do mercado quanto à tramitação da reforma da Previdência.
"Vivemos uma certa continuação do movimento de ontem, há uma melhor imagem em relação à governabilidade", diz Raphael Figueredo, analista da Eleven Finacial Research. "O dólar, hoje, faz o que deveria ter feito ontem".
De fato, a moeda americana "ficou para trás" em relação ao rali do Ibovespa nos dois primeiros dias da semana. O principal índice da bolsa brasileira acumulou ganhos de 2,95% nas sessões de segunda (27) e terça-feira (28) — no mesmo período, o dólar teve alta de 0,21%.
Assim, a divisa dos EUA ainda encontra espaço para reagir de maneira mais intensa ao alívio visto no cenário doméstico, enquanto o Ibovespa apresenta um fôlego mais curto. E as curvas de juros, que também passaram por ajustes expressivos nesta semana, hoje apresentam comportamentos discretos.
Na ponta curta, os DIs com vencimento em janeiro de 2021 recuaram de 6,61% para 6,60%. Na ponta longa, o alívio foi mais intenso: as curvas para janeiro de 2023 caíram de 7,73% para 7,66%, e as com vencimento em janeiro de 2025 foram de 8,36% para 8,22%.
"A leitura é de continuidade dessa melhora de percepção interna", diz Cleber Alessie, operador da H. Commcor, ressaltando que o comportamento do dólar é, de certa maneira, surpreendente. "Lá fora o clima segue bem ruim, tanto nas bolsas quanto nas moedas".
Exterior ainda tenso
Lá fora, seguiu a dinâmica de cautela em relação à guerra comercial, sem maiores progressos nas negociações entre os governos dos Estados Unidos e China. Pelo contrário: o clima parece cada vez menos amistoso, com ambos os lados buscando se fortalecer para uma disputa mais intensa.
Nesse contexto, o Dow Jones fechou em queda de 0,88%, aos 25.125 pontos, o S&P 500 caiu 0,70%, fechando em 2.782 pontos, e o Nasdaq recuou 0,79%, aos 7.547 pontos. As principais bolsas da Europa também fecharam em baixa. E, no mercado global de câmbio, o dólar subiu ante as moedas fortes e ganhou terreno na comparação com algumas divisas de países emergentes, como o rublo russo e o rand sul-africano.
Assim, foi o cenário doméstico que sustentou o bom desempenho dos ativos brasileiros, já que, no exterior, a aversão ao risco ainda deu o tom às negociações.
"O mercado por aqui diluiu as posições mais defensivas", diz Alessie. "Tinha azedado bem, com uma conjunção de fatores internos e externos. Lá fora segue ruim, mas aqui melhorou — e isso vem sendo suficiente para dar algum alívio ao dólar e à bolsa".
Local x global
As boas perspectivas do mercado em relação ao cenário local e o fechamento da curva de juros fizeram com que as ações de empresas mais expostas ao mercado doméstico apresentassem desempenhos positivos do Ibovespa nesta quarta-feira.
É o caso do setor bancário: as units do Santander Brasil (SANB11) subiram 0,90%, Bradesco PN (BBDC4) teve alta de 1,99% e Bradesco ON (BBDC3) teve ganho de 1,84%. Itaú Unibanco PN (ITUB4), por sua vez, exibiu valorização de 1,88%.
As varejistas também tiveram ganhos. É o caso de Via Varejo ON (VVAR3) (+3,85%), Magazine Luiza ON (MGLU3) (+0,14%) e Lojas Americanas PN (LAME4) (+3,12%).
Por outro lado, papéis de companhias mais expostas ao mercado externo e que não se beneficiam do dólar mais fraco estiveram entre as maiores perdas do Ibovespa.
As ações da Petrobras, por exemplo, apareceram no campo negativo, tanto as PNs (PETR4) quanto as ONs (PETR3), em queda de 1,12% e 0,79%, respectivamente. O tom negativo do petróleo no exterior, com o WTI (-0,55%) e o Brent (-0,94%), afeta negativamente os ativos da estatal.
As mineradoras e siderúrgicas também sofreram: Vale ON (VALE3) caiu 1,09%, CSN ON (CSNA3) recuou 4,07% e Gerdau PN (GGBR4) teve perda de 0,64%. Ainda entre as exportadoras, também fecharam em queda:
- JBS ON (JBSS3): -6,42%
- BRF ON (BRFS3): -5,49%
- Marfrig ON (MRFG3): -2,31%
- Suzano ON (SUZB3): -3,45%
- Embraer ON (EMBR3),: -0,16%
Quem vai levar?
A disputa pela Netshoes segue quente: a Centauro elevou sua proposta para US$ 108,7 milhões, o que equivale a US$ 3,50 por ação do site de artigos esportivos. O novo lance superou a oferta do Magazine Luiza, que colocou na mesa US$ 3,00 por papel da empresa.
Como resultado, as ações ON da Centauro (CNTO3), que não fazem parte do Ibovespa, fecharam em alta de 1,56%. Em Nova York, os papéis da Netshoes (NETS) subiram 21,31%, a US$ 3,70.