Os mercados locais e externos têm um tom positivo nesta quarta-feira e o assunto é um só: a decisão de juros do Federal Reserve (Fed), banco central americano, que será anunciada às 17 horas (horário de Brasília).
Falamos no assunto ontem, ponderando que mais relevante que a decisão é avaliar que os Estados Unidos estão no fim do seu ciclo de recuperação econômica, e desde então os apelos para uma mudança na orientação da política monetária americana só fizeram aumentar.
Além de Donald Trump e seus afiados “tuites”, editorial do "Wall Street Journal" também fez apelos à uma reconsideração da estratégia de ajustes graduais e até um ex-presidente do Fed Alan Greenspan reapareceu para falar que os investidores devem “run for cover” e se prepararem para o pior. O que gerou algumas manifestações jocosas de agentes de mercado, pois é sabido que se deve fazer sempre o contrário do que Greenspan disser.
Enfim, o presidente do Fed, Jerome Powell, e os demais membros do órgão equivalente ao nosso Comitê de Política Monetária (Copom) enfrentam uma difícil situação. O Fed está em corner. Como o lutador encurralado do boxe, não importa para que lado pender, vai tomar porrada.
Podem manter o plano de voo de confirmar uma elevação de juros, hoje, para 2,25% a 2,5%, manter o aceno de três novas altas para 2019 e colher uma reação negativa do mercado, que já está colocando no preço uma desaceleração da atividade.
Também podem fazer o que estão chamando de “dovish hike” ou aperto “pombo”, sendo que “pombo” em política monetária denomina um BC de postura menos conservadora. Essa estratégia seria formada pela elevação de juro nesta quarta seguida de uma comunicação mais acomodativa com relação ao futuro.
E podem, ainda, não subir os juros e adotar uma abordagem mais “data dependent” para os próximos passos da política monetária. Essa estratégia é defendida por alguns agentes que apontam para a acentuada queda do petróleo como um fator a reduzir eventual pressão inflacionária.
O fato é que o mercado quer ver uma confirmação de suas expectativas (wishful thinking) e isso vai ter algum custo para o Fed por mais que ele atue embasado em suas projeções, expectativas e na parte mais discricionária existente em todo comitê de política monetária, que é a crença pessoal de seus membros.
No fim, a decisão em si parece perder um pouco de relevância e o que importará mesmo é qual interpretação será dada. Um Fed insensível aos movimentos de mercado, mas respeitado por seu compromisso com a inflação, ou um Fed suscetível aos desarranjos de Wall Street e aos “tuites” do presidente Trump?
Por aqui, o nosso BC já disse como atua diante de cenários incertos na ata se dua última reunião, divulgada ontem:
“Os membros do Copom ponderaram que cautela, serenidade e perseverança nas decisões de política monetária, inclusive diante de cenários voláteis, têm sido úteis na perseguição de seu objetivo precípuo de manter a trajetória da inflação em direção às metas.”