Os dados sobre o mercado de crédito apresentados Banco Central (BC) mostram uma situação interessante para os bancos privados e seus acionistas. A carteira de crédito apresenta a maior taxa de crescimento desde julho de 2012. E o movimento acontece em um ambiente de baixa inadimplência e queda do juro ao tomador final.
Olhando o comportamento em 12 meses, que ajuda a tirar volatilidade de curto prazo, o saldo de crédito dos bancos privados, tanto nacionais quanto estrangeiros, registra uma alta de 10,2%, avançando de 9,2% vistos até julho. O movimento de recuperação acontece desde julho de 2017, mas ganhou tração em março deste ano.
Considerando apenas os privados nacionais, que têm pouco mais de R$ 1 trilhão do crédito no país, o crescimento em 12 meses até agosto foi de 8,9%, maior desde maio de 2012. Os estrangeiros respondem por R$ 457 bilhões do crédito, com alta de 13,1% em 12 meses, taxa não vista desde agosto de 2012.
O crédito como um todo tem crescimento de 3,4% em 12 meses, somando R$ 3,155 trilhões ou 46,7% do PIB. Assim, 2018 caminha para se firmar como melhor ano para o mercado desde 2015 ao menos em termos nominais. Já que considerando a inflação, o mercado não tem crescimento real desde 2014.
Essa retomada do setor privado no crédito capta a mudança de orientação na atuação dos bancos públicos e também um processo de desalavancagem das empresas nos últimos anos, principais tomadoras de crédito direcionado. O que lidera o crescimento das carteiras é o crédito com recursos livres para as pessoas físicas (alta de 9,1% em 12 meses), embora as empresas tenham esboçado reação nos últimos meses, marcando alta de 8,7% em 12 meses até agosto.
O peso do BNDES
Os bancos públicos seguem perdendo espaço, mas ainda respondem por R$ 1,66 trilhão do crédito, ou 53% do total. Essa fatia vem caindo depois de marcar 57% durante boa parte de 2016. Não por acaso ano em que foi feita a reorientação na política de uso os bancos públicos como vetores do crescimento econômico. Olhando as variações em 12 meses os bancos públicos, mostram retração de 2,1% até agosto. E não registram expansão de carteira nessa métrica desde agosto de 2016.
A queda é puxada pela carteira do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que encolhe 10,3% em 12 meses até agosto. No auge das políticas anticíclicas essa carteira crescia acima de 40%. O banco de fomento é o principal responsável pelo crédito direcionado no país, que recua 2,2% em 12 meses, enquanto o crédito livre total sobe 8,9%, melhor resultado desde julho de 2013.
Tirando o BNDES do grupo de instituições públicas, conseguimos captar o comportamento agregado dos demais bancos públicos, como Banco do Brasil e Caixa. O que se observa é um movimento tímido, mas de recuperação. O saldo tem variação positiva de 1,5% em 12 meses até agosto, melhor leitura desde novembro de 2016.
Os calotes no sistema seguem estáveis em 3%, entre as menores leituras da série histórica. Considerando apenas os recursos livres, a inadimplência é de 4,2%, nova mínima da série iniciada em 2011.
Já o custo do dinheiro segue em queda. O juro médio é de 24,5% ao ano, caindo 3,8 pontos percentuais em 12 meses. Com recursos livres a taxa para as pessoas físicas é de 51,8% ao ano, queda de 10,2 pontos percentuais, também em 12 meses.