Abilio Diniz entrou nesta segunda-feira, 15, na lista de indiciados pela Polícia Federal a partir da Operação Trapaça. O executivo é acusado de cometer estelionato, organização criminosa e falsidade ideológica quando era presidente do conselho da BRF.
A Trapaça é um desdobramento da Carne Fraca, que foi deflagrada em março deste ano e tinha como alvo um esquema de fraudes descoberto na BRF.
Outros 42 investigados também foram indiciados. Nessa lista está o ex-diretor-presidente global da BRF, Pedro de Faria, que também é suspeito de cometer crime contra saúde pública e acusado de participar de forma ativa no esquema.
Tanto Diniz como Faria estariam envolvidos no abafamento de um caso de detecção de resíduo tóxico em carnes de frango. O grupo de diretores da companhia tinha conhecimento das substâncias mas não tomou providências para encontrar a causa dessas contaminações.
A PF soltou um relatório de 405 páginas sobre o caso. Nele, o delegado Mauricio Moscardi, de Curitiba, diz que foram analisadas conversas por mensagens de e-mails e WhatsApp. A conclusão que a PF chegou é de que os crimes não se restringiam ao círculo das equipes técnica e gerencial das fábricas da BRF.
“Há, de fato, a participação do corpo diretivo da empresa na trama investigada, o qual tinha ciência de seu modus operandi, e que, não somente se omitiu em relação a fazer cessá-lo, mas, também, participou comissivamente dos atos de ocultação das fraudes, norteando sua execução”, Mauricio Moscardi.
Segundo o investigador, "o que ocorreu foram tão somente a lamentação dos executivos pelo vazamento de informação já conhecida ('Abilio e Zeca, infelizmente alguém do ministério vazou a informação')", a interlocução sobre o ocorrido e também "a tomada de medidas com o fim de "abafar" a disseminação dos fatos descritos em matéria veiculada na imprensa nacional ("Abilio, linda foto! Em relação a China tivemos bom avanço pois conseguimos controlar o vazamento da informação e mantê-lo sob controle")’.
O início da conversa ocorreu em 9 de setembro de 2015. Pedro Faria enviou aos empresários uma matéria do jornal "O Estado de S. Paulo" que tratava da suspensão da venda de frango de 2 unidades da BRF e da Bello Alimentos pela China.
A PF ainda disse no relatório que o grupo agia de forma organizada e mantinha comunicação permanente, e tinha como objetivo de "iludir auditorias, programadas ou inopinadas, em plantas industriais da BRF, eventos nos quais produtos irregulares eram retirados de depósito e escondidos da fiscalização".
BRF afasta envolvidos
Em resposta ao indiciamento da PF, a BRF decidiu nesta segunda-feira afastar todos os seus funcionários envolvidos na investigação. Segundo comunicado da empresa, os colaboradores ficarão fora das suas funções até "o esclarecimento dos fatos".
A BRF também afirmou que mantém conversas com os investigadores para contribuir de forma ampla com as apurações do caso. A companhia disse que vai seguir com seu comitê interno de investigação que apura o caso.
Já o empresário Abilio Diniz divulgou uma nota afirmando que não existem documentos que comprovem as denúncias feitas contra ele e negou que participasse de qualquer grupo criminoso.
*Com Estadão Conteúdo.